- PROGRAMA "DIÁLOGO ABERTO" -
Entrevistas sobre temas sempre importantes.
De segunda a sexta-feira, das 11 às 12 hs.
Produção: Terezinha Jovita
Apresentação: Regina Trindade
Ouça aqui: http://www.rtv.es.gov.br/web/player_radio.htm

segunda-feira, 22 de março de 2010

A saga dos circos - uma história de cultura, amor e violência!

Para muitas pessoas pessoas, 
e principalmente para as crianças, 
a presença de um circo na cidade 
representa mais uma opção de diversão, 
de espetáculos bem alegres. 
Mas a história dos circos nem sempre foi assim.
______________

Quando o assunto é circo, imaginamos imediatamente aquelas grandes tendas de lona e as arquibancadas de madeira repletas de pessoas de várias idades em torno do picadeiro - o centro do local, onde se apresentam palhaços, malabaristas, mágicos, domadores, animais amestrados, equilibristas, contorcionistas, trapezistas, bandas de música, etc. E tudo começa sempre com as famosas duas primeiras palavras ditas pelo apresentador: "Respeitável público!...". Ou então: "Senhoras e senhores!..."
Estas cenas do espetáculo do Cirque du Soliéil 
em São Paulo no ano passado 
comprovam o quanto vale a pena assistir às suas apresentações. 

Até pouco tempo atrás, costumava-se dizer que todo circo é igual, que os espetáculos eram sempre os mesmos. Atualmente os circos estão buscando cada vez mais diversificações, pois o público exige novidades. Além disso, aumenta no mundo a consciência de de que o lugar de animais selvagens é a selva, não o circo, daí a presença cada vez menor de leões, elefantes, tigres, etc. Exemplo disto é o Cirque du Soléil, atualmente o mais famoso do mundo, uma mistura de circo, balé, teatro de revista e espetáculo musical no qual participam somente seres humanos. 

Os primórdios circenses


Uma das principais cenas do filme "Ben Hur" 
retrata a violência comum nas corridas de quadrigas 
(carros puxados por quatro cavalos cada um) 
nos antigos circos romanos.

A tradição circense nos ensina que tudo começou em Roma, cerca de 200 anos antes do nascimento de Jesus (200 anos a.C.). No início era uma festa para homenagear os deuses romanos. Depois, tornou-se um conjunto de competições como os jogos olímpicos. Na antiga Roma, esses jogos se chamavam "ludi circensis" ("jogos circenses" em latim, o idioma falado em Roma naquela época). A palavra "circus", da qual se originou a palavra "circo" em português, não tinha nada a ver com espetáculos como os de hoje em dia; significava "local para torneios", era o nome dado ao local para competições esportivas. 
O circo romano tinha a forma de uma grande elipse composta de três partes: a arena, onde ocorriam as competições como as corridas de bigas (carros puxados por dois cavalos) e quadrigas (carros puxados por quatro cavalos), o anfiteatro (ou seja, as arquibancadas - bancos dispostos em forma de arco) e as cavalariças (abrigos para os cavalos e os carros). O centro da arena era cortado por embasamentos com altares, colunas, obeliscos e estátuas representando deuses e celebridades da época. Nas extremidades dos embasamentos eram colocados dois grandes cones de madeira, chamados "metas", os quais deveriam ser contornados pelas bigas ou quadrigas durante as corridas. 

O Circus Maximus

O maior circo romano da antiguidade foi o Circus Maximus ("Circo Máximo" em latim). Sua construção começou no século III a.C. (antes de Cristo). No ano 46 a.C., o então imperador Julius Caesar ("Imperador Júlio" em latim) mandou reformá-lo e ampliá-lo. Quinze anos mais tarde, o imperador Augusto mandou construir o palco imperial (o "camarote" especial para os imperadores, suas famílias e seus convidados) e colocar um obelisco egípcio no embasamento da arena(*).  O Circus Maximus passou a ter 535 metros de comprimento e 150 metros de largura. O comprimento e a largura da arena eram, respectivamente, de 49 e 80 metros.
O último espetáculo no Circus Maximus se deu no ano 549 d.C. (depois de Cristo), quando já estava em ruínas. Dele, existem hoje apenas o obelisco egípcio e algumas pedras na Piazza Del Popolo, na Roma que atualmente é a capital da Itália.

Política, violência e morte

Na antiga Roma, as funções dos circos não eram apenas de entretenimento e de competições esportivas. Eram também sociais e políticas. Os espetáculos e a distribuição de comida serviam para que o povo "esquecesse" os problemas sociais e políticos. Enquanto a população estivesse nos circos, assistindo aos espetáculos, não estaria participando de levantes ou manifestações populares. No período do declínio do Império Romano, havia 175 dias de festas em circos por ano (**).
Durante muito tempo os circos romanos foram também centros de muita violência. As corridas de bigas ou quadrigas quase sempre ocasionavam acidentes graves. Havia também as lutas entre gladiadores, as quais quase sempre culminavam com a morte de um deles. 
Houve muitos corredores que se tornaram ricos graças a premiações em dinheiro. Um deles se tornou historicamente famoso. Aos 22 anos de idade, Crescêncio se tornou o corredor mais popular de todo o Império Romano quando ganhou mais de um milhão e meio de sestércios (a moeda corrente em Roma na época). A riqueza dos competidores também trazia riqueza para as pessoas que, nas arquibancadas, apostavam neles. Muitos dos espectadores vestiam túnicas iguais às dos corredores nos quais eles apostavam, para serem identificados como seus apostadores. Porém nem todos apostavam, muitos apenas assistiam às corridas e torciam. 

"Nós, que estamos prontos para morrer..."

O gladiador vitorioso pergunta à platéia 
se o derrotado deve morrer ou sobreviver. 
Os polegares para baixo 
indicam que o vitorioso deve matar o vencido.  
Clique sobre a ilustração (cedida pela Wikipedia) 
para vê-la em seu tamanho original.

"Nós, que estamos prontos para morrer, saudamos o imperador e o povo de Roma."  Assim se apresentavam, ao entrar na arena e antes de iniciar a luta, os gladiadores, confirmando que, ao fim da contenda, o perdedor seria morto. 
"Gladiador" é uma palavra que vem de "gládio", o nome dado à espada com a qual ele teria que matar seu adversário. A vida ou a morte do derrotado dependiam da vontade da maioria da platéia. Ao fim da luta, o vencedor pedia a decisão do público. Sinais feitos com o polegar para cima significavam que o vencedor deveria deixar o vencido continuar a viver. Polegares para baixo significavam que o vencedor deveria matar o vencido. Na maioria dos espetáculos, os polegares eram posicionados para baixo. 

Geralmente os gladiadores eram escravos obrigados a participar das lutas. Nestes casos, o vencedor era obrigado a matar o vencido, pois do contrário ele também seria condenado à morte por desobedecer à vontade do povo e ao imperador. 
Esse tipo de espetáculo começou a existir em 264 a.C., mas foi proibido a partir do ano 404 d.C. Muitos foram realizados no Coliseu, o mais famoso dos circos romanos antigos. Recuperado recentemente, o Coliseu é atualmente um importante teatro e centro de atividades artísticas bem mais alegres e interessantes. Naquela época, porém, além das lutas entre gladiadores, realizavam-se no Coliseu lutas entre homens e animais. Muitos desses homens (e também mulheres e crianças) eram cristãos, prisioneiros de guerras ou escravos rebeldes lançados à arena para serem devorados por tigres e leões diante dos olhos do imperador, de sua família e da platéia. Era um forma de mostrar aos adversários do governo o que poderia acontecer com qualquer pessoa que se opusesse às decisões do imperador, quaisquer que fossem estas.
Quando o Império Romano comemorou mil anos de existência, foi apresentado no Coliseu um espetáculo com a participação de dois mil gladiadores (dos quais mil foram mortos), 32 elefantes, 10 tigres, 60 leões, 30 leopardos, 10 hienas, 10 girafas, 20 burros, 40 cavalos, 10 zebras, seis hipopótamos e um rinoceronte. Nem todos esses animais eram destinados a lutar com humanos, muitos apenas apresentavam habilidades. 

A Igreja Católica proíbe espetáculos 

o circo vai às praças

No início da Idade Média, ao firmar sua posição perante o Império Romano, a Igreja Católica proibiu e acabou de uma vez por todas com os espetáculos violentos nos circos. Desde então, os espetáculos passaram a contar apenas com a participação de malabaristas, acrobatas, jograis, saltimbancos e ilusionistas ("mágicos"). Os artistas se apresentavam em festas em castelos, em feiras e em praças públicas. Em troca, pediam moedas como contribuições. 
Os espetáculos circenses começaram a tomar formas semelhantes às dos circos modernos a partir do século XV, quando um circo da Inglaterra incluiu em seus programas, durante sua permanência em Londres, cavalos amestrados, músicos, dançarinos e equilibristas andando sobre cordas. Em 1767, em Paris, um circo francês mostrou um espetáculo com cavalos amestrados apresentando acrobacias sobre os animais e brincadeiras dos artistas com o público. 
A partir de então, as companhias circenses se tornaram mais organizadas. O Circo Astley, uma companhia inglesa famosa na época, apresentou-se em Paris, França, em 1782, com outros animais amestrados e introduzindo figuras que, mais tarde, se tornariam os elementos mais tradicionais dos circos: os palhaços, que fazem grande sucesso em espetáculos até hoje - afinal, quem não gosta de rir?

Circos famosos 
devido aos espetáculos 

às tragédias

A partir daí surgiram os circos definitivamente destinados a se tornar famosos. Em 1788, apresentou-se pela primeira vez, em Paris, o Circo Olímpico Irmãos Franconi. Pela primeira vez, mulheres participaram de um espetáculo fazendo malabarismos e equilibrismos sobre cavalos em movimento. 
Os primeiros circos dos Estados Unidos apareceram em 1792, quando duas companhias - ambas pertencentes ao empresário John Bill Rickets - se apresentaram em Filadélfia e Nova Iorque. Foi aí que começou o uso das coberturas de lona, fáceis de montar e desmontar, permitindo que o circo seja instalado em qualquer espaço suficiente para a realização dos espetáculos.
Por outro lado, a lona também permite grandes catástrofes. Uma das mais comentadas aconteceu em 1944. Em Hartford, uma cidade dos Estados Unidos, a lona do circo Ringling Barnum pegou fogo e gerou um incêndio no qual morreram 168 pessoas. Em Niterói, Rio de Janeiro, na noite de 24 de dezembro de 1961, durante um espetáculo especial de Natal, o Gran Circo Americano foi atingido por um incêndio que causou as mortes de 211 pessoas, incluindo artistas e público. Houve também, durante o século XX, muitos casos em que domadores foram mortos por leões e tigres durante os shows e motociclistas morreram em acidentes na apresentação conhecida como "Globo da Morte" (em que duas ou mais motocicletas se cruzam em alta velocidade destro de um globo). 
Existem poucos circos brasileiros. A maioria das companhias é bem simples e pobre, e sobrevive quase "milagrosamente", graças à dedicação de seus integrantes e ao amor à arte.  Como palhaços, se tornaram famosos no Brasil o Carequinha, Arrelia, Piolim e poucos outros. Alguns abandonaram suas carreiras. Outros, como Carequinha e Arrelia, passaram a trabalhar em cinema e televisão. A maioria deles, como Carequinha e Arrelia, já faleceu devido ao avanço da idade. Os palhaços mais jovens, que aos poucos ainda vão surgindo, ainda se dão por felizes, muito mais por amor à arte e por gostar de fazer as pessoas rirem - principalmente as crianças - do que para sobreviver com os lucros que conseguem obter,  quando são convidados para se apresentar em festas no Dia das Crianças, no Natal, em feiras e aniversários.  
Atualmente os grandes circos internacionais estão valorizando muito mais as atividades humanas. Poucos, como os circos italianos Orlando Orfei e Circo Mágico Thiani, ainda apresentam animais amestrados. A crescente consciência de que o uso de animais para fazerem o que não lhe é natural é uma violência contra eles está fazendo com que a população reaja contra esse tipo de espetáculo e obrigue os governos a tomarem atitudes. No Brasil, em alguns Estados (o Espírito Santo é um deles) a apresentação de circos com animais amestrados já é proibida. 
Entre os circos nos quais se apresentam apenas seres humanos, destaca-se pela grandiosidade o Hollyday on Ice ("Festa Sobre o Gelo"), que surgiu nos Estados Unidos e percorre o mundo sempre inovando seus espetáculos com a participação de artistas de vários países, mostrando as mais incríveis habilidades com patins sobre gelo. 
Outro grande destaque é o Circo de Soléil, cujos espetáculos também somente com humanos começaram no Canadá em 1984. Seus fundadores, Guy Laliberté e Daniel Gauthier, eram ex-artistas de rua que organizaram o grupo apenas para se apresentar numa comemoração dos 450 anos da Descoberta do Canadá. No entanto, o sucesso foi tão grande e tem sido tão crescente que o Cirque de Soléil ("Circo do Sol" em francês) é hoje uma das companhias circenses mais importantes do mundo. 

(*) O Circus Maximus não existe mais, mas o obelisco egípcio está no mesmo lugar até hoje, na Piazza Del Popolo - "Praça do Povo" em italiano). 
(**) Tal como acontece hoje no Brasil, onde o circo, neste caso, é apenas substituído pelo futebol, que tem campeonatos estaduais, municipais, nacionais e internacionais o ano inteiro, e pelo carnaval, que ocorre durante três em fevereiro (em algumas cidades, são mais), nos aniversários de vários municípios e durante os "micaretas" ou "carnavais fora de época".


Fonte: Enciclopédia Conhecer - editora Abril - São Paulo, SP

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