- PROGRAMA "DIÁLOGO ABERTO" -
Entrevistas sobre temas sempre importantes.
De segunda a sexta-feira, das 11 às 12 hs.
Produção: Terezinha Jovita
Apresentação: Regina Trindade
Ouça aqui: http://www.rtv.es.gov.br/web/player_radio.htm

terça-feira, 13 de abril de 2010

"Heróis" do futebol? "Heróis" por quê?

Isto parece ser muito comum em países onde o futebol - que, como todo esporte, deve ser valorizado, mas é mais valorizado do que precisa ser. É comum em países onde se supervaloriza o que não importa tanto e se dá pouco valor ao que realmente é muito importante. Em outras palavras: isto é comum em países como o Brasil. 
Desculpem, eu sei que a forma como iniciei este texto não parece fazer sentido. Provavelmente vocês querem saber a que eu me refiro. Eu explico!
Há poucos dias, um repórter famoso em todo o Brasil fez uma reportagem muito interessante para a Rede News. Disfarçado como gari, o repórter fingia varrer uma das mais movimentadas ruas do centro da capital de São Paulo. Ao final de um prazo de aproximadamente seis horas, segundo ele, ninguém o reconheceu porque entre milhares de pessoas que passaram por ele, nehuma sequer olhou para ele ou percebeu sua presença.
Isto acontece em todas as capitais do país. Entre cada duas mil pessoas que passam por garis por dia, apenas dez (se chegar a este número) olham para ele. E, entre estas dez pessoas, uma ou duas lhe dizem pelo menos "bom dia". Os próprios garis costumam dizer que as pessoas só parecem perceber a presença deles quando elas necessitam de uma informação sobre a localização de uma rua, uma praça, uma loja, etc. Isto sem falar nos milhares de mal educados que, num local que um gari acabou de varrer, lançam pontas de cigarro, copos de plástico, papéis para picolé ou saquinhos para pipoca. 
Mas vocês devem estar se perguntando: "O que isto tem a ver com os 'heróis' do futebol?". Novamente digo, "eu explico": estou me referindo a um país em que grande parte da população - provavelmente a maioria - idolatra pessoas porque elas sabem jogar bem, fazer gols bonitos, etc., e não valorizam as pessoas que levam uma vida sacrificada exercendo atividades como as dos garis, que fazem o que podem para manter limpos, todo dia e o dia inteiro, os lugares que nós sujamos todo dia e o dia inteiro. Estou me referindo a um país cuja maioria da população não valoriza aquelas pessoas que, mesmo não tendo recursos suficientes para manter sua própria saúde, trabalham para que nós mantenhamos a nossa e não podem contar com nossa colaboração, nem ao menos com a nossa compreensão. 
Respeito o direito de outras pessoas pensarem de forma diferente, mas "heróis", para mim, não são pessoas famosas, que ganham altos salários só porque jogam bem e fazem gols bonitos, e são idolatrados por pessoas que eles nem sabem que existem. Heróis de verdade, para mim, não são os famosos: são os anônimos, aqueles que, mesmo ganhando pouco, trabalham muito nas áreas agrícolas para garantir o nosso almoço diário. Aqueles que, mesmo ganhando pouco, dirigem seus caminhões enfrentando perigos por dias e noites nas estradas mal para garantir a chegada de mercadorias importantes para a nossa sobrevivência. Aqueles que, mesmo ganhando salários baixos, atuam nos portos, carregando e descarregando mercadorias transportadas por navios para garantir o sustento da nação. 
Heróis, para mim, são aqueles que, mesmo ganhando salários baixos, mesmo que eu não saiba quem são e que eles não saibam que eu existo, trabalham e contribuem para que eu possa continuar existindo. Valorosos, para mim, são aquelas pessoas - homens e mulheres - cujo valor raramente é reconhecido mas ainda assim continuam cumprindo sua missão, e ainda conseguem encontrar tempo e disposição para torcer por seus times favoritos e supervalorizar os famosos que fazem gols, mesmo sem serem valorizados por eles. 

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