- PROGRAMA "DIÁLOGO ABERTO" -
Entrevistas sobre temas sempre importantes.
De segunda a sexta-feira, das 11 às 12 hs.
Produção: Terezinha Jovita
Apresentação: Regina Trindade
Ouça aqui: http://www.rtv.es.gov.br/web/player_radio.htm

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Religião: um vínculo com Deus ou uma questão de ponto de vista?


Numa ilha em algum lugar do Pacífico ou de qualquer outro oceano, mas distante de qualquer continente, vive um povo que ainda não teve contato algum com o que nós chamamos de "civilização" e desconhece totalmente a nossa existência. Esse povo vive da caça e da pesca, utiliza como armas arcos e flechas, mal sabe acender uma fogueira, tal como viviam os índios na América pré colombiana. Um hidroavião, com seu barulho característico, pousa sobre a água e desliza até chegar à terra firma e, de dentro dele, saem algumas pessoas.
Escondidos entre as árvores, alguns nativos observam o "fenômeno": uma "criatura voadora" desceu do céu e chegou à terra firma após ter andado sobre a água. Como se isto não bastasse, criaturas semelhantes a humanos saíram de dentro dela e caminharam sob o solo. "Criaturas semelhantes a homens", porque certamente a mentalidade de um povo que mal consegue acender uma fogueira como faziam nossos ancestrais que moravam em cavernas, e que ainda hoje vivem como viviam antigamente os índios do nosso continente, não conseguiria conceber a possibilidade de seres humanos voarem num aparelho como aquele. Na verdade, pensariam que uma "coisa" que voa, caminha sobre a água e faz barulho teria que ser uma criatura, um ser vivo ou entidade sobrenatural - lembre-se: os primeiros índios brasileiros que viram um avião o chamaram de "pássaro gigante" ou "pássaro de ferro". E pessoas que vieram do céu dentro da "criatura" não seriam humanos comuns: só poderiam ser deuses ou espíritos com aparência humana. Em seguida, os nativos voltariam para sua aldeia e contariam aos demais, a seu modo, o que acabaram de ver. Nasceria, assim, um novo mito proveniente da realidade. Esse novo mito passaria a fazer parte de uma religião já existente ou daria origem a uma nova religião.
A narrativa acima não é uma ficção. Aconteceu várias vezes durante a Segunda Guerra Mundial, quando aviões de combate dos Estados Unidos e de outros países que compunham as Forças Aliadas pousaram em ilhas consideradas como pontos estratégicos. Frequentemente os aviões eram interpretados pelos nativos como "pássaros do trovão" (por causa do barulho que faziam) e seus tripulantes eram confundidos com "deuses". 
Isto comprova que, muito mais do que uma relação dos seres humanos com Deus, com deuses ou com o "mudo sobrenatural", a religião pode ser oriunda de pontos de vista de quem passa ou passou por determinadas experiências aparentemente "incompreensíveis". "Religião" é uma palavra proveniente de "religare", que significa "religar" em latim. Neste caso, o verbo "religar" está relacionado à necessidade humana de buscar uma religação com o sobrenatural na busca de explicações para fatos aparentemente inexplicáveis sob o ponto de vista natural. 

A religião como objeto de estudo

Entretanto a religião também pode ser interpretada pelas várias formas como ela é tratada como objeto de estudo. Os antropólogos, por exemplo, costumam descrever as crenças e práticas religiosas como forma de manter os membros de uma comunidade unidos numa experiência comum a todos e ao mesmo tempo pessoal, bem como numa forma de tentar encontrar explicações para a vida. Já os sociólogos consideram que a religião seja uma forma de manter as pessoas unidas numa mesma maneira de interpretar o mundo e tudo que nele existe, mas ao mesmo tempo propõem um senso de significado pessoal. Os historiólogos, por sua vez, se limitam, na maioria dos casos, a descrever a religião apenas como um conjunto de elementos resultantes de crenças, mas raramente explicam as origens dessas crenças. 
O teólogo britânico Douglas Davies, autor de "The Study of Religion", diz que os teólogos estudam a religião a partir de suas próprias crenças, questionando o que eles mesmos consideram como verdadeiro ou falso e comparando suas conclusões com as respostas de outras pessoas. 
As diferentes interpretações são válidas se forem consideradas suas diferentes formas pessoais ou coletivas de se chegar a uma conclusão e, ao mesmo tempo, suas próprias limitações. O que se observa como fato é que há uma diferença muito clara entre o ponto de vista do estudioso de religiões e o do seguidor da religião estudada. Para o seguidor da religião, é seu vínculo com Deus - ou com os deuses, segundo cada religião. Para o estudioso, uma questão de ponto de vista de quem a estuda ou de quem nela crê ou dela participa. O mais interessante em tudo isto é que se pode considerar uma terceira posição: a de que as duas ao mesmo tempo podem estar certas.

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