- PROGRAMA "DIÁLOGO ABERTO" -
Entrevistas sobre temas sempre importantes.
De segunda a sexta-feira, das 11 às 12 hs.
Produção: Terezinha Jovita
Apresentação: Regina Trindade
Ouça aqui: http://www.rtv.es.gov.br/web/player_radio.htm

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Verdades e mitos sobre o "Santo Graal"

Em muitas cerimônias religiosas
(especialmente as cristãs), 
o cálice assume um papel
semelhante ao de um personagem principal.
Para ver melhor a ilustração, clique sobre ela.

São tantas as histórias contadas sobre o "Santo Graal" que é muito difícil estabelecer divisas entre a realidade e a ficção. De um lado, especialistas em história e religião afirmam que tudo não passa de uma série de lendas e mitos. De outro, escritores sensacionalistas, mas também pesquisadores bem intencionados, afirmam que existem provas de que ele existe. E muitos são os que gastam fortunas viajando pelo mundo garantindo que é possível encontrá-lo.  E há quem diga que, se o cálice mais procurado do mundo for encontrado, muitas coisas no mundo mudarão radicalmente, especialmente os conceitos religiosos pregados pelas igrejas cristãs.
Certamente nem todos esses aventureiros estão interessados em descobrir a verdade. Muitos deles são provavelmente levados pela ambição. Afinal, se o Santo Graal existe, trata-se de um dos mais valiosos tesouros escondidos em algum lugar do mundo.

"O Sangue de Cristo tem poder!"

Nas narrativas sobre o Graal, o cálice assume uma importância de tal forma que, mais do que um objeto sagrado ou um tesouro histórico, aparece em quase todas elas como o personagem principal. A mais conhecida de todas diz que enquanto Jesus padecia na cruz, um soldado romano tentou matá-lo, não porque desejava que o Cristo morresse, mas porque queria abreviar seu sofrimento. Esse soldado, chamado Longinus, atirou-lhe uma lança, mas esta passou apenas de raspão próximo à região do baço de Jesus, causando-lhe um leve ferimento que aumentou seu sofrimento.
Um seguidor de Jesus, José de Arimatéia, estava no local, e tinha em suas mãos o cálice com o qual Jesus havia tomado vinho durante a "Última Ceia" - quando ele ceou na noite anterior ao dia de sua morte, junto com os apóstolos. Com o cálice, José de Arimatéia colheu um pouco do sangue proveniente do corpo de Jesus e o escondeu num local. Entre os que acreditam nesta história, muitos afirmam que esse local foi o Templo de Jerusalém.

A Ordem dos Templários

Não se sabe com exatidão quando surgiram as primeiras lendas sobre o "Santo Graal", mas acredita-se que o Cálice Sagrado já havia sido mencionado em histórias contadas muito antes do nascimento de Jesus. Entretanto, não há registro algum sobre como o cálice chegou até Jesus.
O que se sabe é que as histórias sobre esse misterioso objeto ganharam ímpeto há mais de 800 anos, na Idade Média, quando o escritor francês Chretién de Troyes escreveu "Le Vonte du Graal" ("O Conto do Graal"), uma das versões da história do rei Arthur. No livro, ele contava a seguinte história:
Percival, um dos Cavaleiros da Távola Redonda, um dia chegou a um castelo, meses depois de ter deixado a corte do rei Arthur em busca de fama e aventuras. Estava tão cansado que queria apenas um lugar para dormir durante a noite e prosseguir em sua viagem no dia seguinte. Seu cavalo também precisava de um bom descanso.
O morador do castelo era um velho nobre conhecido como "Rei Pescador" que não somente o recebeu como o convidou para cear com ele naquela noite. Antes do banquete começar, duas crianças atravessaram a sala. Um menino trazia nas mãos uma lança cuja ponta sangrava como se fosse viva. Logo em seguida, veio uma menina com roupas majestosas, trazendo um enorme cálice de ouro puro com jóias preciosíssimas incrustadas. Do cálice, emanava uma luz tão intensa que superava a luz proveniente das velas da sala.
Percival ficou deslumbrado, mas por uma questão de educação, não fez perguntas nem fez comentários. No dia seguinte ele prosseguiu em sua viagem, mas nunca mais esqueceu o que presenciou no castelo. Um dia, decidiu reencontrar aqueles tesouros e desvendar seus segredos a qualquer custo. Assim, segundo Chretiéns de Troyes, teria começado a primeira procura ao "Santo Graal". A lança transportada pelo menino seria aquela que feriu o corpo de Jesus na cruz. O cálice nas mãos da menina seria, portanto, o Graal.
Essa história foi escrita em 1190. O livro não explicava muitas coisas. Por exemplo: por que a lança sangrava? Quem era o "Rei Pescador"? E afinal, Percival encontrou ou não encontrou o tal cálice novamente mais tarde? Conta-se que Chretién morreu poucos anos depois de ter escrito seu livro sem responder a estas perguntas. Talvez sua intenção fosse realmente a de fazer crescer a curiosidade dos leitores e aumentar o sabor de mistério em sua história. Afinal, na época o culto a objetos sagrados era como uma espécie de obsessão, principalmente quando eram relacionados a Jesus. havia, por exemplo, muita gente em toda a Europa que garantia que possuía até o "dente de leite" do Menino Jesus. Outros afirmavam que possuíam recipientes com as lágrimas de Jesus. Percebe-se, assim, que o escritor francês soube aproveitar a época mais propícia para o sucesso de seu livro.
Porém, bem antes disso, em 1096, ocorreu um fato bem real a respeito do Graal. Incitados pelo papa Urbano II, cristãos europeus organizaram um ataque a Jerusalém, quando a cidade era dominada por muçulmanos. Essa invasão violenta dos cristãos é considerada como a Primeira Cruzada, e através dela eles conquistaram o território atualmente ocupado por Israel e pela Palestina.
Apesar da vitória militar cristã, o território permaneceu sob litígio muçulmano. Portanto, Jerusalém tornou-se um lugar inseguro para os cristãos. Por esta razão, em 1116 foi fundada a Ordem do Templo, cujo objetivo era - ou pelo  menos deveria ser - proteger viajantes cristãos que chegavam a Jerusalém e visitavam os santuários locais. Conhecidos como "Templários" - daí por que a "Ordem do Templo" também se tornou conhecida como "Ordem dos Templários" - os membros da irmandade uniam o treinamento militar a votos de pobreza e castidade e juravam defender a fé cristã a golpes de espada.
Segundo muitos pesquisadores, apesar do voto de pobreza, muitos templários se tornaram muito ricos. Dedicados a proteger cristãos durante séculos, os templários receberam como presentes muitas doações de terras e dinheiro que lhes eram oferecidos por nobres como demonstração de agradecimento por serviços prestados a uma boa causa. Além disto, os templários eram isentos de todos os impostos.
Com esse acúmulo de riqueza, os templários conseguiram montar uma frota de navios que se tornou em pouco tempo maior do que as de muitos países cristãos. Depois disto, os "defensores dos cristãos" se tornaram banqueiros. Cem anos depois de sua fundação, a Ordem dos Templários já se firmava como uma grande empresa multinacional, mais rica do que muitos países na época.  Durante os séculos 12 e 13, muitos dos seus membros já ocupavam cargos importantes como conselheiros e diplomatas, representantes de reis e até do Vaticano, compartilhando inclusive segredos de Estado.
Certamente o crescimento de tanta influência dos templários não era visto com bons olhos por muita gente. Com misto, certamente eles ganharam inimigos declarados e ocultos, até mesmo dentro do Vaticano. A situação piorou muito para eles a partir de 1291, quando os muçulmanos finalmente conseguiram expulsar os cristãos de Jerusalém.  Mas foi no dia 13 de outubro de 1307, uma sexta-feira, que o rei da França, Felipe, o Belo, ordenou a prisão de todos os templários franceses, acusados pelo Vaticano e pelo rei de praticar heresias.
Segundo muitos estudiosos, essas acusações foram meras calúnias. Eles afirmam que muitos templários se declararam culpados, mas porque foram torturados para isto.
Provavelmente vocês estão se perguntando o que tudo isto tem a ver com o Graal. Eu explico: há teorias que dizem que a perseguição aos templários não tinha motivos religiosos, e sim políticos e econômicos. E há uma boa razão para isto: o reino da França estava falido, e esta seria uma boa oportunidade para o rei Felipe confiscar a fortuna da Ordem e, desta forma, resolver muitos de seus problemas financeiros. De acordo com muitos teóricos, em meio a esta fortuna estaria "um certo tesouro" nunca encontrado: o Cálice Sagrado.
Acredita-se que o objetivo real dos Templários em Jerusalém não era apenas proteger os cristãos contra possíveis ataques dos muçulmanos. Era, além disso, proteger o Cálice Sagrado, o qual, acreditava-se, estava escondido no Templo de Jerusalém. Isto não significa que os atuais pesquisadores acreditam na existência do cálice: significa apenas que eles acreditam que os templários acreditavam nisto.

O Santo Graal na Bíblia

Mesmo entre os cristãos, muitos são os que afirmam que o Santo Graal nunca existiu porque ele não é mencionado na Bíblia. Talvez esta visão seja apenas uma questão de interpretação pessoal. Entre os hebreus, bem como entre os egípcios - povo com o qual, segundo a Bíblia, os hebreus conviveram na condição de escravos antes de serem libertados sob a liderança de Moisés - e entre muitos outros povos da antiguidade, o uso de cálices em cerimônias religiosas e a crença de que aquele que bebesse do líquido que houvesse neles ganharia poderes, sabedoria, etc., era muito comum. 
Mesmo no Novo Testamento, existem passagens que podem muito bem ser referências ao Graal. Uma delas é a própria ceia da qual Jesus teria participado em companhia de seus apóstolos - o cálice com o qual ele bebeu o vinho que representava seu sangue (uma possível previsão de que seu sangue seria colhido na cruz com o mesmo objeto) e o compartilhou com seus principais seguidores. Numa outra, afirma-se uma solicitação que o próprio Jesus teria feito a Deus: "Pai, afasta de mim este cálice." É possível que ele quisesse que, após sua morte, o Graal percorresse o mundo, mesmo secretamente, como muitas narrativas afirmam que ocorreu.

As relações entre as histórias de Jesus e do rei Arthur

Ao prestarmos atenção a alguns detalhes das histórias sobre o rei Arthur, perceberemos algumas similaridades com a história de Jesus narrada na Bíblia. Por exemplo, como Jesus nasceu como o "messias" prometido por Deus para proteger os indefesos contra aqueles que estavam a serviço do mal, o rei inglês também nasceu com a mesma incumbência. 
A lenda do rei Arthur faz uma referência à Excalibur, a espada mágica incrustada numa pedra. Dizia uma profecia que a espada daria amplos poderes a quem a possuísse, e que essa pessoa só a conseguiria se fosse ela o rei libertador por Deus para salvar a Inglaterra. Muitos foram os que tentaram tirá-la da pedra, mas não conseguiram, até que um dia um menino franzino, que ajudava nos serviços realizados no castelo de um nobre, realizou o feito sem qualquer esforço - e sem intenção de realizá-lo. 
Merlim, o mago, percebeu que esse menino, a quem todos conheciam pelo apelido de "Verruga", era o rei prometido, e atuou como seu tutor até o dia de sua coroação. A Excalibur, certamente não por coincidência, era cruciforme (tinha a forma de uma cruz, o símbolo cristão). 
Há muitas versões sobre o significado do nome "Excalibur". Uma das mais aceitas diz que se trataria de uma corruptela do latim "Caesar Calibur" ("Espada do Rei"). De qualquer forma, era de fato uma espada destinada exclusivamente àquele que seria o rei, e até mesmo isto coincide coma história de Jesus, que chegou a ser chamado de "Rei dos Judeus" e "Rei dos Judeus". 
Para cumprir sua missão, Jesus formou um grupo de seguidores liderados por 12 homens, chamados de "apóstolos". Também para cumprir sua missão, logo após ter sido coroado, Arthur contou com o apoio de 12 homens de sua confiança - os "Doze Cavaleiros da Távola (ou Mesa) Redonda".
Diz a Bíblia que Jesus ressuscitou após sua morte na cruz. Uma lenda afirma que o rei Arthur não morreu em sua última batalha como contava a história original, mas teria sobrevivido e passado a residir em outro local - o que, de certa forma, pode ser simbolicamente visto como uma "ressurreição". 

Os erros de interpretação do livro "O Código Da Vinci"

O livro "O Código Da Vinci" - que nada mais é do que um excelente romance de aventuras - inclui uma referência ao Santo Graal como um objeto que simboliza o sexo. Mas o autor do livro, Dan Brown , não foi o primeiro a dar essa versão ao Graal, e ele mesmo demonstra que esta não é sua opinião pessoal, mas a de outros antes dele.
De fato, em 1920 a inglesa Jessie Weston descreveu o cálice da história escrita por Chretiéns de Troyes como um símbolo da vagina, e a lança sangrenta, segundo ela, representava o pênis. Na década de 1980, o pastor inglês Lionel Fanthorpe, da Igreja Anglicana, sugeriu que o cálice poderia ter sido trazido à Terra por extraterrestres (*).
Muitas pessoas que leram "O Código Da Vinci", principalmente "evangélicos", interpretaram o livro erroneamente. Muitos são os que afirmam que, no livro, Dan Brown afirma ou sugere que Jesus foi casado com Maria Madalena. Não é isto que o livro - o qual, volto a dizer, é apenas uma obra de ficção de aventuras - demonstra. O que o livro revela é que muitos pesquisadores pensam dessa forma, e sugere que uma das personagens principais é uma descendente de Jesus - mas a personagem é fictícia. Em nenhum momento o livro evidencia qualquer intenção de afirmar que Jesus realmente foi casado e teve filhos.
Mas o que o livro revela, sobre pessoas que afirmam que Jesus era casado, é, verdade. Muitos autores, sensacionalistas ou não, afirmaram, muito antes de "O Código Da Vinci" ter sido publicado (o livro foi escrito em 1994) apontam como prova, por exemplo, o fato de os Evangelhos se referiram a Jesus como "rabino" (líder religioso judeu), baseando-se no fato de que, na antiga Judéia, para ser um rabino era necessário ser casado: logo, Jesus teria que ter uma esposa.
Também o livro "O Código Da Vinci" não foi a primeira obra a sugerir que o nome "Santo Graal" seria uma corruptela de "Sang Real" ("Sangue Real" em francês. O que o personagem principal da história de Dan Brown, o investigador de símbolos Robert Langdon, diz no decorrer da história é que essa não é uma interpretação nova, o que também é verdade: ela consta no livro "The Holy Grail and The Holy Ancestry" ("O Santo Graal e a Linhagem Sagrada"), de vários autores, publicado na década de 1980, e no livro "The Sons of The Gral" ("Os Filhos do Graal"), de Peter Berling, escrito em 1990.

Conclusão:

O Santo Graal existiu, ainda existe ou nunca existiu? Prefiro que o leitor chegue à conclusão que desejar. Seja como relíquia cristã, símbolo pagão, objeto trazido por extraterrestres, há uma verdade sobre ele: nenhum outro objeto, real ou não, causou tanta polêmica em toda a história da humanidade. Por isto, se sua existência for confirmada e se for realmente encontrado algum dia, certamente se tornará a relíquia histórica mais valiosa do mundo. Existindo ou não, já traz em si o poder de não significar nada e, ao mesmo tempo, significar muitas coisas e muitas épocas diferentes, podendo gerar polêmicas, influenciar pensamentos ou mudanças de pensamentos, costumes e comportamentos mesmo na nossa própria época e talvez até no futuro.
Desde a Idade Média até hoje, o Graal sempre tem aparecido muito mais em obras de ficção do que em trabalhos com base na realidade. Mas este é apenas mais um de seus mistérios: esse poder de fazer com que tanto a afirmação de sua existência como a afirmação de sua inexistência sejam, pelo menos até agora, baseados em meras suposições e especulações.
De alguma forma, mito ou não, o cálice como símbolo de grande importância, principalmente sob o ponto de vista sagrado, sempre aparece em nossas vidas. Entre os símbolos da Maçonaria e de outras confrarias, encontram-se um cálice e a letra "G" (provavelmente de "Graal"). Como o "G" é a sétima letra do alfabeto, pode ao mesmo tempo representar o Graal e o 7, que na Bíblia é muitas vezes citado como um número sagrado. Na maioria das vezes chamado de taça ou copa, é cobiçado por times e torcedores em torneios de futebol. É com ele que tomamos champagne ao chegar o Ano Novo, o Natal ou quando realizamos outras comemorações. Nas olimpíadas, a pira na qual se acende o fogo que é mantido durante o período das competições é uma taça ou cálice. Enfim, ele aparece como o "personagem principal" em muitos outros eventos e em todas as culturas. Coincidências? Talvez, mas temos que admitir que são muitas.


(*) Segundo pesquisadores, o pastor, que também era presidente da Associação Britânica de Pesquisas Ufológicas, escreveu isto em seu livro "The Holy Grail Revealed" ("O Santo Graal Revelado").

Referências:
  • "O Código Da Vinci", de Dan Brown (edição de 1995) - Editora Sextante - Rio de Janeiro - RJ
  • Revista "Superinteressante" - edição 210 - Editora Abril - São Paulo, SP.

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