- PROGRAMA "DIÁLOGO ABERTO" -
Entrevistas sobre temas sempre importantes.
De segunda a sexta-feira, das 11 às 12 hs.
Produção: Terezinha Jovita
Apresentação: Regina Trindade
Ouça aqui: http://www.rtv.es.gov.br/web/player_radio.htm

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

LEMBRANÇAS - ou "oportunidades que a vida nos dá para apredermos alguma coisa"

Lembro-me de um fato ocorrido quando eu trabalhava para a Rádio Gazeta, em Vitória (ES). Numa manhã, a diretora de uma escola estadual que existia num bairro na época conhecido por ser dominado por criminosos (embora muitas famílias honestas também morassem ali) telefonou para a Rede Gazeta dizendo que desejava denunciar ameaças de bandidos contra professores e alunos - a maioria delas contra professoras e alunas. Como repórter da rádio, fui enviado ao local com a equipe da TV Gazeta, formada por uma repórter, uma cinegrafista e um auxiliar de cinegrafista. 
O bairro se situava num morro. Devido à má fama do bairro, o motorista teve medo de subir a ladeira, pois o carro evidenciava muito o que estávamos para fazer ali: um automóvel quatro-portas branco com enormes letras azuis que chamavam muita atenção: "TV Gazeta - reportagem". Quando o veículo começou a subir, ouvimos fogos de artifícios: um evidente sinal de que nossa presença foi percebida. 
O pessoal da TV e eu gravamos juntos a entrevista com a diretora em frente à escola. Uma imensa multidão nos cercou, assistindo à entrevista enquanto nós fazíamos o nosso trabalho. Havia entre aquelas pessoas simples curiosos, mas também alguns "muito interessados" em saber o que estava acontecendo - vocês entendem o que quero dizer com isto, não é?
Verificamos que a denúncia era verdadeira. As evidências eram vidraças quebradas e, dentro das salas, pedras com pedaços de papel amarrados a elas, contendo mensagens ameaçadoras, de mortes, estupros, etc. Algumas pessoas em meio à multidão estavam com paus nas mãos, como que a nos ameaçar. Havia um policial militar numa guarita, mas ele estava tão desprotegido quanto nós. Para o caso de uma emergência, o motorista se manteve no carro com o motor ligado e as quatro portas abertas. 
Num dado momento, uma pedra caiu sobre o capô do carro. Nenhuma mensagem estava amarrada a ela. Nem era preciso. Era óbvio o que aquela pedrada no veículo estava nos dizendo: "O tempo de vocês esgotou. Entrem no carro e vão embora." E foi o que fizemos, afinal era isto que, naquele momento, o nosso bom senso também nos dizia. Restou o fato de que havíamos feito o nosso trabalho, cumprindo nossa missão da melhor maneira que podíamos.
Estou lhes contando este fato porque sinto a falta de preparo de estudantes de jornalismo (comunicação social), que fazem estágios ou chegam à última fase do curso dizendo que serão apresentadores de telejornais, ou que só farão reportagens esportivas, ou sobre economia ou política. Acontece que os estudante ou principiantes em jornalismo precisam saber que não são eles que farão suas escolhas. Quando estiverem trabalhando, será o diretor (do jornal, da revista, do telejornal, etc.) quem lhe dirá em que área ele trabalhará. Nenhum repórter cobre uma rebelião num presídio, um tiroteio entre policiais e bandidos, nem acompanha policiais no combate a traficantes de drogas porque quer. Ele é obrigado a fazer isto. E a advertência vale tanto para "os"  futuros repórteres como para "as" futuras repórteres. Quem não estiver disposto a enfrentar situações perigosas, terá que escolher outra profissão. Portanto, vai aqui um conselho para estudantes de jornalismo: antes de chegarem ao fim do curso, reflitam bastante sobre isto para concluir se é isto que vocês querem como atividade profissional, porque haverá várias ocasiões em que vocês, queiram ou não, terão que enfrentar situações assim.

Elias Alves

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado pelo seu comentário.