Palavras e Ações

Se você é sincero quanto ao que diz,

suas palavras informam o que você pensa,

mas é o que você faz 
que confirma como você é.

Observe como os passarinhos conhecidos como joão de barro fazem suas "casinhas". São todas parecidas, sempre feitas do mesmo jeito, com o mesmo material básico: o barro. Perceba como os outros passarinhos fazem seus ninhos: sempre do mesmo jeito segundo cada tipo de passarinho. Os ornitólogos - cientistas que estudam as aves - reconhecem que tipo de passarinho habita um determinado local apenas observando a forma como seu ninho foi feito, sem a necessidade de ver a criatura. Os castores constroem suas moradas nos rios represando a água, sempre de maneira semelhante. 

É assim que acontece com todas as demais espécies animais, com excessão apenas da espécie humana. Somente o ser humano constrói casas, edifícios, etc., de formas e materiais diferentes. Isto acontece porque o ser humano possui um grande diferencial que o destaca das demais espécies: é dotado de uma inteligência mais elevada do que as das demais espécies (dizem que os outros animais não possuem inteligência, mas já foi comprovado que isto não é verdade). Graças a essa capacidade intelectual , a espécie humana, ao longo das várias etapas da evolução, desenvolveu também o que nós chamamos de "livre arbítrio". 

No entanto esse "livre arbítrio" não deve ser interpretado como o "direito de fazer tudo que quiser". É preciso respeitar os direitos e os espaços dos outros. Como se costuma dizer, "os meus direitos terminam onde os seus começam, e os seus terminam onde começam os meus." Eu tenho o direito de dizer o que quiser, mas tenho a obrigação de ter o cuidado de não dirigir palavras ofensivas a quem não merece ser ofendido. Eu tenho o direito de escrever um artigo sobre o que quiser, mas preciso evitar palavrões e outros termos desnecessários que possam fazer com meus leitores se sintam constrangidos, pois este é mais um direito deles que eu tenho que respeitar. 

Minha dotação de razão, à qual muitas vezes chamamos de "consciência", me diz que tenho direitos e deveres, mas nem sempre o que eu acho que é meu direito é visto como tal por outras pessoas. Neste caso, o "direito" é uma questão de interpretação pessoal. Ainda assim, quando transformo algo que faço em algo público (como este texto, por exemplo), me sinto na obrigação de tentar imaginar o que outras pessoas, isto é, meus leitores, considerariam como meu direito ou como falta de respeito aos direitos deles. Vem a mim, então, o sentimento de obrigação de evitar, ao máximo possível, a publicação de algo que lhes possa causar aborrecimentos. Porém, se meu texto revela minha opinião sobre algo, que me desculpem aqueles que não concordarem com ela mas, se tenho uma opinião, tenho o direito de expressá-la -  educadamente, é claro. Expressar minha opinião de outra forma seria falsidade de minha parte; não expressá-la seria omissão. 

Penso que eu estou expressando por palavras o que penso, tentando, ao mesmo tempo, revelar como sou. Porém, também creio que somente através das minhas atitudes ou ações, e não de palavras, conseguirei de fato revelar como eu sou.

Tentarei expor exemplos que possam definir de forma mais clara o que estou tentando dizer. Suponhamos que você não se considere uma dessas pessoas chamadas de "antissociais". Porém, deixe-me fazer uma pergunta:

Talvez você não tenha o saudável hábito de procurar, sempre que possível, conversar com vizinhos. É possível que você costume dizer que não conversa com eles porque eles também nunca tentaram conversar com você. Mas será que algum dia você já pensou na possibilidade de que eles não conversam com você porque você não conversa com eles? Será que as pessoas que moram no mesmo edifício, bairro ou na mesma rua em que você mora não se aproximam de você porque você também nunca tentou se aproximar delas? Será que seus colegas de trabalho, seus vizinhos ou seus parentes nunca tentaram ajudar você, ou saber se você precisa de alguma ajuda, porque você também nunca teve a iniciativa de fazer o mesmo com relação a eles?

Você é uma daquelas pessoas que se autodefinem como "independentes"? "Independência" é uma palavra bonita, mas que na prática não existe. Todo ser humano é dependente, desde o nascimento até a morte. O profissional liberal que pensa que é independente porque não tem "chefe" ou "patrão" está muito enganado: ele depende muito de sua clientela. Todos nós precisamos de, entre muitas outras coisas, medicamentos, roupas e alimentos para sobreviver; portanto, dependemos muito dos fabricantes e funcionários das indústrias têxtil, farmacêutica e alimentícia. Se repentinamente nos sentimos mal, necessitamos do socorro de quem estiver por perto. Para nos sentirmos seguros contra criminosos, necessitamos do apoio policial. 

Enfim, todos dependemos de todos. Embora cada ser humano seja diferenciado por suas características individuais, a realidade em que vivemos nos demonstra todos os dias que nenhum de nós é independente da sociedade em que vivemos. Portanto, pense bem no seguinte:

Você provavelmente é uma ótima pessoa. Porém, as outras pessoas só saberão disto se você se revelar a elas. Essa revelação só pode ser manifestada por meio de atitudes, não apenas por palavras. Procure sempre tem um tempo para se dedicar a seus familiares, a seus vizinhos, a colegas de trabalho, etc. Você perceberá que, somente depois disto, as outras pessoas se sentirão mais à vontade com relação a você mesmo, procurarão se aproximar mais de você, serão mais solidárias a você. 

Não construa paredes à sua volta, faça pontes. Não espere que as outras pessoas venham até você, tome a iniciativa de ir até elas. Antes de lhes dizer o que você quer que elas ouçam, procure ouvir o que elas têm a lhe dizer. Não se limite a lhes dizer o que você pensa ou como você é; diga, mas também demonstre. A demonstração é algo que só é possível por meio de atitudes, não apenas através de palavras. Lembre-se que...

• ...numa empresa, seu projeto pode ser excelente, mas o sucesso do seu trabalho dependerá do seu relacionamento com seus colegas de trabalho;
• ...os problemas da rua ou do bairro em que você mora são também seus problemas, mas você nunca poderá resolvê-los sozinho, precisará do apoio da comunidade;
• ...o aluno só conseguirá aprender a matéria com a ajuda do professor, o doente só conseguirá a cura com a ajuda de médicos e enfermeiros - e de Deus, é claro.
• ...a criança só se tornará um adulto honesto, bem educado e preparado para enfrentar a realidade da vida se houver sempre o empenho de toda a família para isto. 
• ...seus problemas, mesmo os mais íntimos, não serão resolvidos se você não obtiver ajuda de outras pessoas, mas para merecer essa ajuda, você também tem que ajudá-las sempre que for necessário e possível. 

Você tem o direito de ser feliz, mas deve se lembrar de que a felicidade não vem sem que você lute por ela. Mas algumas das armas que você precisa usar nessa luta são a lealdade, a solidariedade, a honradez, o respeito ao próximo para que o próximo aprenda  a respeitar você. 

Observe as lições que a natureza nos dá. Veja como como cada abelha cumpre rigorosamente suas obrigações para ajudar o enxame e para que todo o enxame a ajude. Perceba como cada formiga trabalha arduamente para colaborar com todo o formigueiro e receber colaboração das outras formigas. Aí você perceberá que, neste ponto, nós não somos diferentes das outras espécies animais. Por favor, pense nisto.