- PROGRAMA "DIÁLOGO ABERTO" -
Entrevistas sobre temas sempre importantes.
De segunda a sexta-feira, das 11 às 12 hs.
Produção: Terezinha Jovita
Apresentação: Regina Trindade
Ouça aqui: http://www.rtv.es.gov.br/web/player_radio.htm

quarta-feira, 25 de maio de 2011

O que são as religiões e as seitas?

Há muitas diferenças
entre o que é uma seita e o que é uma religião. 
Nem toda seita tem relação com coisas malignas, 
nem tida seita tem vínculos religiosos
e nem toda religião
exige uma crença num deus, em deuses ou em deusas.

Numa conversa entre amigos, quando o assunto é "religião", há sempre divergências de opiniões. Há também sempre alguém que se arrisque a dizer que determinada religião na verdade é uma seita. Mas nem toda seita é religiosa e, quando é, geralmente seus próprios seguidores fazem questão de dizer que não se trata de uma seita. Isto acontece porque a palavra "seita" passou a ter, na sociedade em que vivemos, um significado pejorativo gerado principalmente pelo desconhecimento de seu verdadeiro significado. Por esta razão, é chamado de "seita" qualquer grupo de pessoas supostamente relacionado ao mal. O cinema tem contribuído muito para o fortalecimento dessa interpretação equivocada, através de filmes de terror que sempre mostram como "seitas" grupos secretos de adoradores do demônio e praticantes de rituais e sacrifícios satânicos. Favorecida pela ignorância cultural, a ficção ganha força a ponto de assumir um "status" de "verdade" nem sempre justificável. Pensando sobre este tema, li vários livros, alguns deles claramente sensacionalistas, mas também obras que considerei pelo menos muito interessantes, como as de Douglas Davies, um teólogo inglês. 
Mesmo entre os autores dos livros que li, percebi que havia aqueles que claramente desconheciam os significados das palavras "religião" e "seita". Por isto eu os classifiquei como sensasionalistas: não penso que eles de fato desconheciam esses significados, mas que eles se aproveitaram de muitas pessoas os desconhecerem para propagar seus livros e vendê-los à custa da boa fé alheia. Desde o tempo em que eu frequentava o segundo grau, aprendi que "seita", palavra que vem do latim ("secta", que significa "seção", "isolamento", "separação de uma parte em relação ao todo") pode ser um grupo religioso, mas pode ser também um grupo científico, social, filantrópico, político, etc. Ou seja: uma seita é um grupo de pessoas que adotam uma doutrina ou uma ideologia - religiosa ou não - diferente das doutrinas e ideologias dominantes na sociedade em geral. Em outras palavras: uma seita é uma minoria de pessoas que aderem a qualquer expressão humana de abrangência cultural e social diferente da maioria da sociedade. 
Isto significa que um grupo que é uma seita hoje poderá não ser uma seita futuramente, embora seus adeptos continuem mantendo suas ideologias. Isto porque essas ideologias poderão, com o passar dos anos, ser adotadas por toda a sociedade. Para citar um exemplo, havia na Europa, na Idade Média, pequenas seitas científicas cujos membros pregavam que a Terra girava em torno do Sol enquanto toda a sociedade - influenciada pela Igreja - afirmava que o Sol girava em Torno da Terra. Hoje, no mundo inteiro a ideia de que a Terra gira em torno do Sol está estabelecida como uma verdade incontestável. Neste caso, o que na Idade Média era uma seita atualmente é uma sociedade global. 
As seitas são relacionadas por muitas pessoas a práticas de heresias devido à influência da Igreja principalmente a partir da Idade Média, com o intuito de colocar o povo contra pessoas que traziam ideias novas, defendiam inovações e o direito do povo à cultura e ao saber científico (veja, neste blogue, o artigo "Leonardo Da Vinci - O líder que sobreviveu à perseguição da Igreja"). Naquela época, a Igreja Católica condenou Leonardo Da Vinci ao exílio e Nicolau Copérnico à morte na fogueira porque eles pregavam a verdade científica contra as mentiras do clero que, usando o nome de Deus, queria apenas manter-se recebendo privilégios políticos e sociais. Hoje, embora ninguém mais seja condenado à morte na fogueira, muitos são os líderes de igrejas que usam o nome de Deus para ludibriar as pessoas de boa fé. Quando surgem grupos de pessoas que os denunciam, eles logo tratam de dizer aos membros de suas igrejas que esses grupos são "seitas". 
Surgiram, no decorrer do tempo, seitas criminosas, como a famosa Ku Klux Klan, que segundo algumas informações ainda existe nos Estados Unidos e prega o racismo, considerando índios e negros como seres não humanos e que devem ser mortos. Por outro lado, muitas seitas surgiram para realizar trabalhos filantrópicos, estudos científicos de alta importância que hoje beneficiam muito a humanidade, e outras que atuam como grupos que buscam conscientizar a humanidade sobre a necessidade de proteger e preservar a natureza. Nesse sentido, o Greenpeace, por exemplo. é uma seita. 
Diferentemente das seitas, as religiões sugiram com um sentido de religação entre a pessoa individualmente ou entre grupos de pessoas e a natureza, entidades sobrenaturais, Deus, deuses ou deusas. "Religião" é uma palavra originada do termo latino "religare", que significa "religar". Mas veja bem: "religar", em vez de "ligar". Isto  sugere a busca de uma suposta ligação que havia antes mas se perdeu. Mas o estudo de cada religião pode resultar em vários sentidos para essa "religação", como está dito no início deste parágrafo. No cristianismo, uma religação com Deus. Nas religiões dos índios da Amazônia, uma religação com os espíritos dos mortos, das florestas, etc.  Muitas tribos existentes no mundo manifestam suas crenças religiosas como relação entre as pessoas e a natureza, pois desta provem tudo que a tribo necessita para sobreviver - a carne dos animais, os peixes e a água dos rios, os frutos e a madeira das árvores e tudo que plantam e colhem como alimento (sabem que a qualidade dos alimentos vegetais depende da qualidade do solo). Neste caso, há uma busca da religação entre os humanos e os recursos naturais. 
Também temos que considerar os significados dessas religações sob os pontos de vista filosófico, científico, profissional e pessoalmente experimental. Observemos, por exemplo, sob as óticas da antropologia, da sociologia, da história e da teologia. Os antropólogos descrevem as práticas e fés religiosas de acordo com o que observam dentro das sociedades que eles estudam - uma aldeia indígena, por exemplo. Com base nessas observações, eles costumam deduzir que a religião ajuda a manter as pessoas unidas por um senso de experiências individuais e ao mesmo tempo coletivas na busca de uma explicação para os sentidos da vida e da morte. Neste caso,  vejo a tentativa de busca de uma religação ao mesmo tempo entre as pessoas e das pessoas com a natureza, o sobrenatural, etc. 
Os sociólogos descrevem essas religações numa dimensão mais social - o que é bem compreensível, afinal são sociólogos. Para muitos deles, a religião se resume basicamente numa maneira de ver o mundo, mas de modo que cada indivíduo de uma mesma sociedade interprete as proposições e seus significados num sentido próprio. 
Os especialistas em história descrevem a religião principalmente em termos de eventos resultantes das crenças. Neste caso, entendo que a religação a ser buscada é um vínculo entre as crenças e os fatos resultantes delas, mas também entre os crentes  e seu Deus, seus deuses, os espíritos ou sejam quais forem as entidades em que eles acreditam. 
Já que a palavra "teologia" é resultante da junção das palavras gregas "theos", que significa "deus" e "logos", que quer dizer "estudo", se fosse traduzida, como se diz popularmente, "ao pé da letra", deveria significa "o estudo de Deus, ou de um deus ou dos deuses". Porém, geralmente a teologia é interpretada como estudo de uma determinada religião feito por uma pessoa que a segue. Ou seja, o teólogo é uma pessoa que estuda sua própria religião(*). Parace-me que o próprio Douglas Davies (**), que já foi professor de teologia na Universidade de Nottingham, na Inglaterra, confirma isto em sua obra "O Estudo da Religião". Nela, ele explicou que "a teologia se relaciona aos significados de doutrinas desenvolvidas ao longo de anos e, ao mesmo tempo, às formas como cada doutrina deriva das escrituras sagradas, às questões sobre o que é e o que não é verdade e às respostas que as pessoas dão a essas questões". 

(*) Por favor, teólogos, corrijam-me se eu estiver enganado.
(**) Autor de "The Study of Religion" ("O Estudo da Religião"), "Miths and Simbols" ("Mitos e Símbolos") e "Religion of The Gurus: The Sick Faith" ("A Religião dos Gurus: A Fé Sick"), artigos publicados no livro "The World's Religions" ("As Religiões do Mundo"), da editora inglesa Lion Publishing.


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